terça-feira, 17 de novembro de 2015

Especial Do Passado para o Presente #2: Axiom Verge (PC, PS4, VITA)



Em 1997, era lançado um jogo para o Playstation que iria por recriar um estilo completamente viciante de gameplay. Esse jogo fazia parte de uma famosa série de heróis contra vampiros e todo tipo de monstro lendário. É claro que estou falando de Castlevania, mais precisamente do Symphony of the Night. A obra máxima de Koji Igarashi ganhou grande notoriedade por mesclar o estilo de exploração visto em Super Metroid, com as criaturas e cenários de Castlevania, criando assim um sub-gênero muito amado até hoje, denominado "metroidvania".

Muitos "metroidvanias" foram criados após Symphony of the Night, sendo que até nos dias atuais existem produtoras que tentam imitar ao máximo a grandiosa obra de Igarashi e sua turma. O jogo tratado hoje é mais um que pegou carona nesse estilo, mas, de alguma forma, Axiom Verge consegue ser diferente em alguns quesitos e gostaria de explicá-los à vocês nesse segundo post do especial Do Passado Para o Presente!


Axiom Verge saiu em março desse ano, para PS4 e PS Vita. Três meses depois, alcançou os PCs, OS X e também a plataforma Linux. O game foi completamente escrito, concebido, idealizado e produzido por Tom Happ, que trabalhava em suas horas de folga nesse seu projeto solo. Foram 5 anos programando, compondo as músicas, escrevendo a história e testando possíveis bugs até seu lançamento neste ano. A intençã inicial de Tom era lançar o jogo exclusivamente para PCs e Xbox 360 ainda em 2013, mas devido aos atrasos na época e à um contato direto pela Sony, o produtor, músico e compositor lançou sua maior obra primeiramente nos consoles da Sony, para posteriormente lançá-lo também nos PCs e outras plataformas.

Em Axiom Verge, controlamos Trace, um cientista que, após um grande incidente em seu laboratório, acorda em um mundo completamente diferente do seu, onde a tecnologia evoluiu à largos passos. Em um primeiro momento, Trace procura saber onde está e escuta uma voz misteriosa chamando-o a acordar. Trace questiona sobre o lugar onde ele veio parar, mas a voz apenas diz que é preciso que ele pegue um arma na sala ao lado. Após o jogador tomar o controle do personagem e ir até a arma, a voz retorna e diz para ele correr, pois o tempo é curto.



À partir desse momento, sem quaisquer explicações ou motivos, o jogador é levado a controlar Trace por uma infinidade de labirintos cheios de perigos e locais escondidos. Um proveitoso mapa em tempo real pode ser localizado no canto superior direito, além do desenho de sua arma logo ao lado e da sua barra de energia do lado oposto. O mapa pode ser consultado no menu para uma melhor visualização, além de permitir que o jogador faça marcações nele para explorações futuras. Aqui também nota-se a simplicidade dos comandos: Trace pode atirar para todos os lados, inclusive nas diagonais, além de pular.

Em tese, Axiom Verge faz uma mescla interessante de vários jogos da época do Nintendinho. Ao unir mecânicas únicas em seus 15 upgrades diferentes que Trace pode usar, ele acaba por incorporar jogabilidades semelhantes à Rygar, Bionic Commando, Castlevania e até mesmo Blaster Master em determinada altura do jogo. De fato, Axiom Verge é uma interessante salada de jogos camuflados dentro de um só, uma descoberta prazerosa desde os primeiros minutos de gameplay.

Trace tem à sua disposição inicialmente apenas a Axiom Disruptor como arma, mas, ao longo do jogo, podemos encontrar um arsenal composto por 23 armas, sendo que 3 delas são secretas e apenas uma pode ser encontrada por gameplay. Isso significa que será preciso terminar três vezes o jogo se quiser pegar tudo, um fator replay interessante, haja vista que, somados aos upgrades, temos aqui 38 itens para serem encontrados no jogo, isso sem falar nos extensores.

Esses extensores (tratados no jogo como Power-ups) vão desde Health Nodes, que podem ser encontrados inteiros ou em fragmentos e aumentam a barra de energia do protagonista, os Power Nodes, que aumentam o dano das armas e os Size Nodes, que aumentam o alcance e o tamanho do projétil de algumas armas específicas.

Além disso, itens que decifram pequenas mensagens escondidas no cenário e itens que guardam partes da história do jogo também estão espalhados pelos labirintos. No total, temos uma infinidade de upgrades, armas e itens para serem encontrados vasculhando os 9 labirintos gigantescos do jogo todo. Mas, todo esse trabalho é recompensador?



A resposta é um sonoro sim! Se existe uma coisa que Tom Happ soube mesclar muito bem, além da variedade de gameplay proporcionada pelas mais diferentes armas e upgrades, é o level design extremamente convidativo de Axiom Verge. O visual propositalmente adotado lembra bastante os jogos do NES, com cenários de cores fortes e vivas. Em alguns momentos parece realmente uma cópia dos cenários do primitivo Metroid original de NES, mas com uma camada de modernidade proporcionada pelas placas gráficas atuais.



Se o level design é muito bem feito, o mesmo pode ser dito dos inimigos e também da dificuldade do jogo. Trace começa com uma energia bastante escassa, onde poucos toques em inimigos e armadilhas é o suficiente para nocautear o pobre cientista. Explorar os locais em busca de Health Nodes é um constante que o jogo lhe obriga devido à dificuldade do mesmo. A maioria dos chefes é gigantesco e ocupam quase toda a tela, em alguns casos sobrando apenas um pequeno espaço para Trace conseguir escapar de suas investidas. E cada um deles tem um padrão diferente a ser seguido, o que denota mais uma vez a criatividade de Tom Happ.

Uma coisa que precisa ser dita das os upgrades de Axiom Verge é que eles não se limitam à apenas copiar o que já existe no mercado. Upgrades como pulo duplo, raios congelantes que lidam melhor com objetos quentes ou até mesmo puzzles com esse tipo de artefato não existem aqui. Todas as ferramentas usadas por Trace tem um ar de novidade, uma complexidade única que as difere das dos outros jogos do mesmo estilo metroidvania.



Para se ter uma pequena noção, um dos upgrades, o Field Disruptor, altera a gravidade do lugar, permitindo que Trace salte um pouco mais alto, conseguindo alcançar fendas e lugares antes inacessíveis. É a mesma coisa que um possível pulo duplo em qualquer outro metroidvania, mas que é tratato e nomeado de forma diferente e criativa em Axiom Verge.

Outro upgrade, o Laser Drill, por exemplo, é uma potente broca que fica ativa num botão separado do controle, permitindo que Trace fure paredes frágeis e encontre passagens secretas e até mesmo saídas escondidas em diversas salas. Alguns upgrades são simplesmente versões para Axiom Verge de itens bem conhecidos dos jogadores, como o Grapple, que é o tradicional gancho que permite atravessar longos desfiladeiros.

Trace não pode se tornar uma bolinha, como Samus na série Metroid, mas faz uso de uma ferramenta bastante interessante para explorar locais apertados: o Remote Drone, uma espécie de pequeno alienígena, do tamanho de um rato, que Trace solta e que à partir desse momento pode ser controlado pelo jogador livremente para explorar o cenário.

Em determinada altura do jogo, Trace encontra o upgrade Drone Teleport, onde ele pode trocar de lugar com o Drone esteja onde ele estiver, agregando possibilidades enormes de exploração dos complicados labirintos.

Algumas partes do cenário são bloqueadas por uma espécie de glitch também, onde Trace se machuca se tentar avançar. Geralmente, esses pedaços do mapa guardam ótimas recompensas, mas só se consegue entrar ali depois de conseguir o upgrade Adress Disruptor, que desconstrói essas barreiras, permitindo a passagem.



As armas seguem mais ou menos esse padrão também. Como são em uma quantidade até assustadora pra esse estilo de jogo, cada uma se comporta de maneira diferente e são utilizadas constantemente para se resolver puzzles e destruir certos inimigos.

A arma Nova, por exemplo, solta um tiro em forma de esfera que pode ser explodido pelo jogador durante sua trajetória, resultando em vários outros projéteis pelo ar. Essa arma é constantemente utilizada para abrir portas cujo mecanismo de liberação geralmente está em locais inacessíveis para Trace. Outra arma bem interessante é a Turbine Pulse, que solta pulsos curtos de uma energia esverdeada, mas que podem desintegrar facilmente os inimigos mais fracos.



Axiom Verge está repleto de músicas de extremo bom gosto. Tom Happ realmente é, além de um exímio programador, um compositor de mão cheia. O jogo todo é permeado por algumas das melhores game musics nesse estilo de jogo. Cada área do jogo tem uma música diferente, e todas elas seguem o estilo 8 bits, com uma grande ênfase em temas que expressam muito bem o clima de solidão vivido por Trace.



Como todo bom jogo do estilo metroidvania, Axiom Verge é bastante exigente do jogador. Terminar seus enormes labirintos coletando tudo que existe neles é uma tarefa extremamente difícil, mas recompensadora pelo seu visual detalhadíssimo, pelas canções marcantes e pelo level design inteligente e criativo. A ambientação orgânica misturada com tecnologia, a progressão da história cheia de momentos marcantes e todo o ambiente criado por Tom Happ fazem deste um dos jogos mais memoráveis que apareceram nessa época, quiçá dessa geração.



Mas mesmo com tantos prós e elogios, a obra de Tom Happ não escapa de pequenos deslizes. O principal deles, ao meu ver, é o fato do jogo ser enorme, tanto em tamanho dos mapas quanto na quantidade de coisas e itens pra achar. Axiom Verge, em determinado momento, acaba passando a ser prioridade do jogador, pois se ele parar por alguns dias de jogar, acaba perdendo todo andamento e a sensação de estar perdido é intensa.

Isso se dá principalmente pelo tamanho dos mapas e também pela quantidade de upgrades diferentes que podem ser coletados, o que acaba sendo uma faca de dois gumes. Mesmo assim, não lá um motivo pra você não desejar encarar esse desafio, só é preciso um pouco de planejamento para não abandonar a jogatina na metade.

Apesar desse pequeno defeitinho, se você ainda não experimentou, mas gosta bastante desse estilo, recomendo pra ontem esse jogo. Assim como Odallus e tantos outros que ainda vão pintar aqui no blog, Axiom Verge é uma obrigação de cada jogador que aprecia o estilo pixel art e ama o sub-gênero metroidvania.

Resumão:
+ visual estonteante baseado nos 8 bits;
+ efeitos de partículas por todo canto, sem slowdown;
+ músicas caprichadas;
+ level design criativo e desafiador;
+ muitas armas, muitos upgrades, muita coisa escondida pra achar;
- é tanta coisa que alguns jogadores podem acabar cansando do jogo lá pela metade;

Final Score: 9.5

10 comentários:

  1. Uau, eu sou fissurado por esse tipo de jogo
    Me empolguei só de olhar kkk
    Esse daí eu jogo com certeza e que bom que o jogo é grande rsrs valeu cosmão!

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  2. Que texto Cosmão!
    Esse game usa a técnica de pixels da forma correta, faz a gente lembrar dos games retrô.Ao contrário de The Count Lucanor, por exemplo, que mais parece que aplicaram um filtro "8 bit shader" e colocaram à venda.
    Deu vontade de jogar, me senti lendo uma Ação Games de novo, com aquela água na boca de vontade de comprar um cartucho novo.
    Valeu Cosmão!

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  3. Tô de olho nesse jogo desde que li sobre ele. Mas to esperando pra pegar no PS4 mesmo, já que meu controle do PC tá meio problemático e não consigo me imaginar jogando algo assim no teclado mais. Infelizmente, com essa elevada do dólar, os preços tá PSN tão tristes.
    Mas o jogo parece muito interessante. E bota "baseado" em Metroid nisso. Desde a jogabilidade em si, até esse visual meio "orgânico" de algumas telas e tal. As bolhas incusive lembram muito cenários do Metroid II do Game Boy.
    Realmente, jogos assim ainda me dão uma alegria nesse mercado indie de hoje, que ficou infestado de coisa hipster ou com uma pixel art que tenta ser minimalista demais ao ponto de sair com um visual inferior ao que os 8bits de antigamente conseguiam fazer.

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  4. Pelas imagens e por sua precisa descrição o jogo parece ser digno. A única coisa que me incomodou foi o tamanho do herói, ele parece uma pulga nas imagens em que aparece com o chefe, o que me faz perguntar: o jogo apresenta algum efeito de zoom dependendo da situação?

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  5. Caramba que jogão hein lendo a respeito sobre ele agora fiquei bem impressionado com a quantidade de coisa a se pegar para a melhoria do seu personagem vou dar uma conferida depois nesse game.

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  6. O jogo pode ser bem acabado e render boa experiência pra quem for jogá-lo, mas achei o design muito puxado pra série Metroid a ponto de não parecer bem uma "homenagem", um ponto negativo na minha opinião que possuo com certos jogos indies, fica muito escancarada a referência. O problema que noto é tentarem emular uma estética passada ao invés de captarem a essência que seria um desafio relativamente dificil pros tempos de hoje, mapas amplos, up grades legais e filosofia erro e acerto.

    Mas também é uma resposta pras produtoras das franquias inspiradoras que por temor da pouca vendagem recusam-se a fazer remasterizações, continuações em perfil oldschool ou se restringem ao mercado japonês. Enfim, vou tentar rodar esse Axiom pra ver se mudo de opinião.

    Uma dica que passo aí pra galera, caso gostem de indies nesse estilo é catarem jogos doujin que seria o termo japa pro mesmo que também pegam receitas de bolo clássicas e criam novos jogos é outra alternativa pra quem quer jogar paradas nessa vibe.

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  7. Tô louco pra jogar o Axiom Verge desde que vi o primeiro teaser dele. Mas pra isso, acho que preciso jogar Super Metroid antes... rs
    Gostei das influências mencionadas, pelo visto esse jogo parece melhor do que eu já imaginava.
    Me parece uma boa alternativa pro portátil da Sony! Tenho minhas dúvidas se vou cansar, gosto bastante desse tipo de jogo.
    Excelente análise!

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  8. Tem certeza que tem para vita? Procurei na PSN e nada :(

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  9. Prezados,

    É possível utilizar Joystick na versão desenvolvida para PC???


    Já tentei de diversas formas jogar o referido game utilizando Joystick (até mesmo por meio do JoyToKey, Xpadder, XInput, entre outros artifícios), mas não obtive sucesso.

    Alguém saberia me informar se é possível utilizar, sim ou não?

    Se é possível utilizar, alguém por favor poderia me informar como?



    Desde já agradeço!


    Sds.,
    Vinnew

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    Respostas
    1. Dá pra utilizar normalmente sim. Usei um controle de Xbox 360 pra fazer esse review.

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